Aposentado com um salário mínimo doa sacos de cimentos para construir novo presídio de Rio Verde: ‘Emocionado’
Escrito por Radio Sempre FM em 27 de março de 2019
Nova Casa de Prisão Provisória foi erguida pelo TJ-GO com a ajuda da população. Ao visitar prédio, ele classificou o local como ‘coisa de primeiro mundo’. Presos trabalharam fazendo tijolos.
Um aposentado fez questão de ajudar nas obras da nova sede da Casa de Prisão Provisória (CPP) de Rio Verde, região sudoeste. O prédio foi erguido pelo Poder Judiciário com o auxílio de alguns moradores da cidade. Mesmo recebendo apenas um salário mínimo por mês, Joel Evangelista Santos, de 70 anos, adquiriu e doou cinco sacos de cimento para a construção.
A nova penitenciária foi inaugurada na segunda-feira (25) e vai substituir a antiga, que ficava no centro da cidade. Ele compareceu ao lançamento e, no dia seguinte, deu uma volta pelo local e gostou do que viu.
“Ficou bonito, muito bonito mesmo. Tá arrumadinho. Eu fico emocionado de ter feito parte disso porque eu sei que todo mundo vai ganhar”, disse o idoso.
Pedreiro aposentado que recebe salário mínimo doa cimento para construção de presídio
Segundo o aposentado, a ideia de contribuir com a obra surgiu quando ele ouviu em uma rádio local o apelo para que a população ajudasse na construção da nova CPP.
“Eu estava ouvindo a rádio cedo e eles pediram que a gente ajudasse no que pudesse. Aí lembrei que o saco de cimento estava de promoção. Peguei R$ 100 reais e comprei cinco sacos. Na mesma hora, eu já fui à rádio e entreguei a nota”, contou.
Um dia após a inauguração do CPP, Joel visitou todo o prédio — Foto: Aline Caetano/TJGO
O idoso mora há mais de 50 anos em Rio Verde. Com o salário mínimo, sustenta também a esposa. Sem saber ler e escrever, ele trabalhou como pedreiro a maior parte de uma vida e já tem alguns anos que conseguiu se aposentar. “O nosso dinheirinho dá para gente comer e ainda para ajudar, graças a Deus”, afirmou.
Joel mora a 4 km de distância da nova CPP e conta que alguns moradores da região foram contra a transferência da nova unidade. “Eles não queriam que viessem para cá porque tinham medo dos presos fugirem e ir para as casas deles. Eu falava é que vai trazer é mais segurança. Vai ter toda hora polícia aqui perto. E que preso vai fugir para perto? Eles vão é para longe”, relatou.
Ao visitar o CPP, o idoso classificou o prédio como “uma coisa de primeiro mundo”. De acordo com ele, só tinha visto uma prisão pela televisão e com um cenário bem diferente da que acabou de ficar pronta.
“Agora é cuidar para que não fique um lugar feio como os que a gente vê nos jornais e escuta falar nos rádios. Tudo o que o homem constrói, o homem pode destruir”, destacou o idoso.
Cimentos doados pelo aposentado foram usados na confecção de blocos usados na obra — Foto: Aline Caetano/TJGO
Presos construíram tijolos usados no prédio
Segundo o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), a construção da nova CPP contou com a participação de 30 presos do regime fechado e semi-aberto. O cimento doado por Joel foi usado por eles para a fabricação dos tijolos.
Ainda de acordo com judiciário, os presos, que não são da CPP, trabalharam durante meses na fábrica dos blocos de cimento, que fica também dentro da unidade de Rio Verde. A informação é que eles produziram ao todo, com centenas de sacos de cimento, 40 mil tijolos, todos usados no novo prédio.
“Estamos pagando pelo que fizemos, com o trabalho. É uma oportunidade para quem está aqui dentro”, disse um dos presos que trabalhou na fábrica de tijolos.
Nova Casa de Prisão Provisória (CPP) de Rio Verde foi inaugurada na última segunda-feira (25) — Foto: Aline Caetano/TJGO
A iniciativa só foi possível, segundo o idealizador do projeto da construção do presídio, juiz Eduardo Álvares de Oliveira, da 3ª Vara Criminal de Rio Verde, porque foi formado um pacto de cooperação contra o crime e a violência.
“E esse é o grande exemplo que a cidade de Rio Verde oferece: o exemplo de que, com união e objetivos definidos, é possível alterar o curso dos fatos, o exemplo de que podemos, sim, construir uma sociedade mais segura e mais preparada para o futuro”, afirmou o magistrado.
fonte: g1 GO